13 de agosto de 2008

Nó na garganta

Agonia é a palavra-chave. Durante o dia inteiro seu chefe te provoca e na última hora de trabalho ele ainda te cobra mais empenho. Não desce. Aquele entulho de palavras entre o tórax e a boca é inevitável. Não adianta beber um litro d’água. E quando sua mulher reclama de algo que, para você, não tem razão de ser? Não tem jeito, o bolo gramatical se aloja na curva do esôfago e dali não sai mais. Ainda assim, a gente tem que engolir. Corrijo-me, engolir não, fingir que engole, já que descer mesmo, nunca desce.
O que pode ocorrer é subir, mas aí a gente perde a cabeça. O refluxo é tão forte que só nos serve aos 47 do segundo tempo com o gol que dá vitória ao nosso time. Aí sim, podemos perder a cabeça, porque, no fim das contas, certamente a encontraremos em meio às outras da torcida.
Só lá mesmo. No dia-a-dia, não. Se em toda vez que um guardinha cheio de pompa e mal-educado nos parasse cobrando os documentos, nós falássemos o que realmente pensamos, já estaríamos cumprindo pena na prisão. Imagine mandar o chefe para aquele lugar! O prazer instantâneo seria imenso, mas, sem o emprego, o buraco na carteira seria tão grande quanto.
Este incômodo que nos engasga deve ser diluído. Uns o fazem afogando-o em lágrimas presas. Outros, com umas e outras na mesa de um bar. No entanto, o ideal mesmo é um tapinha nas costas. Seja da mãe, da mulher ou do amigo, uma mão que te empreste os ouvidos e segure a sua cabeça junto ao corpo é a melhor opção. Chamam, no popular, de nó na garganta. Não tem esse nome à toa, afinal, para afrouxá-lo, só um especialista.

Um comentário:

Larsvatell disse...

Muito boa a forma q vc descreve de maneira detalhada o tão simples: "Vai tomar no cú".

Zoando não, kra...conseguiu descrever com maestria o sentimento q a vontade gera. Nem acho fácil descrever um sentimento e esse texto me fez lembrar de como é sentir essa agonia toda.