13 de agosto de 2008

Por que escrever?

- Então, vai escrever... Interessante. Por quê?
- Por não querer fazer outra coisa.
- Ou porque é moda se escrever sobre o que pensa.
- Ou para fazer uma sinopse sobre o que as minhas sinapses não são capazes de fazer.
- ...?
- Escrevo pelo desconforto perene e explosivo de não ter a real consciência sobre o que passa pela minha cabeça. Não cogite loucura, é só um infinito de idéias e possibilidades comum à mente de qualquer pessoa entre dez e cem anos. No meu caso, porém, o texto talvez ajude o leitor-escritor a crer que pode compreender o emaranhado do próprio quadro psíquico.
- Tudo bem, é plausível, mas se essa é sua desculpa, por que é curioso a ponto de querer escancarar a certeza de que nunca será capaz de compreender por completo seus pensamentos, os dos outros e quiçá a imensa interseção entre eles?
- Não sei, quem sabe não esteja aí a solução de quem escreve. Aceitação. Já que não vou saber tudo mesmo, ao menos eu me entretenho passando o tempo desenhando símbolos que significam tanto para os outros quanto para o grafite que utilizo.
- Não, não é assim também. Os homens são capazes de achar um sentido para tudo que lhes convém, diferentemente da pobre ponta do lápis.
- Verdade. Tudo depende tanto de quem escreve quanto de quem lê.
- Sim, pois insisto: por que quer escrever se, por um lado, não vai obter o que busca quanto a autoconhecimento e por outro, seus leitores mastigarão suas letras as digerindo com seus corpos tendenciosos?
- Pode ser por mil motivos. Satisfação do ego, defesa de uma ideologia, desejo de ser o único ser a escrever exatamente aquilo, crença no bem que o texto pode provocar, ou, ainda, no poder de persuasão que ele terá sobre as pessoas. Enfim, será que se aglutinarmos tais hipóteses, ponderando seus devidos pesos, responderíamos à pergunta? Ou será que continuaríamos como bons e velhos que somos... Apenas buscando um sentido que não encontramos enquanto, sem percebermos, vivemos nos outros inúmeros que criamos?

2 comentários:

Larsvatell disse...

O cara é um pensador. E dos bons, ae.
Época de colégio ja era tempo de matarmos horas falando de coisas consideradas complexas pra moleques de sei lá quantos anos. E a figura já mandava bem nas idéias.

Boa rapá!

Unknown disse...

Sobre a arte de escrever (e ler...)

Consigo enumerar milhões de motivos para escrever, mas o mais surpreendente é que não consigo pensar em sequer um para não fazê-lo.
Por vezes, não passam de um punhado de linhas tortuosas enfeitadas de exagerado lirismo, por vezes apenas o título é capaz de lograr êxito ao transpor o crivo de nossa austera censura.
Mas, o certo é que de cada uma delas emana um brilho.
A cada letra libertamo-nos mais um pouco das amarras mundanas e de todas aquelas milhões de capas de autodefesa que levamos anos para construir.
Esse é o perigo de se escrever: exagera-se tudo, vive-se à espreita, força-se, sobretudo, constantemente a mais suprema verdade...
Portanto, caro leitor,
Não julgue, apenas leia.
Devore cada letra, palavra, frase...

“O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria”. Mario Quintana

Promessa cumprida! Continue, sempre!